quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Petrobras cai em ranking de ética do setor


Notícia publicada em 28/01/2010 no Valor Econômico.

Índice preparado pela suíça Covalence é divulgado no início de cada ano e estatal era a primeira em 2009

Protestos de várias entidades brasileiras fizeram a Petrobras perder o posto de companhia com melhor reputação ética entre as multinacionais do petróleo e gás, num índice publicado na Suíça, e ficar agora em quarto lugar numa classificação que ajudava na sua imagem corporativa.

O índice anual de ética cobrindo 581 multinacionais de 18 setores é publicado todo mês de janeiro pela empresa suíça Covalence. Leva em conta informações sobre 45 critérios, como impacto ambiental da produção, promoção social, gestão de detritos, informação ao consumidor, inovação ecológica de produtos, presença internacional, riscos ambientais, padrões trabalhistas e política anticorrupção.

Assim como existem Moody´s ou Fitch para classificar risco-país, a Covalence quer ser a agência de classificação social das empresas. Ela baseia seu índice em informações de oito mil fontes, sobretudo a imprensa, em inglês, francês, alemão e espanhol.

Na classificação de 2008, a Petrobras foi apontada a líder entre as companhias de petróleo e gás, seguida pela canadense Suncor Energia e pela StatoilHydro da Noruega. Mas a reação foi rápida, com uma carta de protesto assinada pelo Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, Secretaria de Verde e Meio Ambiente do município de São Paulo, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, SOS Mata Atlântica, Greenpeace Brasil Amigos da Terra, Instituto Akatu, Instituto Brasileiro de Advocacia Pública, Movimento Nossa São Paulo e Instituto Ethos.

Essas entidades se disseram "surpresas" e alegaram junto à Covalence que a Petrobras não se enquadrava nos critérios estabelecidos. Acusaram a empresa brasileira de produzir ou distribuir diesel entre 500 e 100 partes por milhão (ppm) de enxofre, comparado com o que dizem ser os níveis de 10 a 15 ppm na Europa e nos Estados Unidos.

Acusaram a Petrobras também de ter co-responsabilidade na má qualidade do ar nas grandes cidades brasileiras "assim como nas mortes prematuras de 7 mil pessoas cada ano".

A Petrobras reagiu com outra carta para a empresa suíça, qualificando a reação das entidades de "ações politizadas" e propagar "falsa informação que pode causar danos a nossa companhia".

A companhia petrolífera insistiu que "investe fortemente na qualidade do combustível", citando cifra de US$ 1,6 bilhão entre 2000-2007. E considerou "questionável" a afirmação de que a quantidade de enxofre no diesel seria responsável por sérias doenças respiratórias no país. "É um erro dizer que apenas reduzindo o conteúdo de enxofre no diesel pode-se resolver o problema da qualidade do ar", diz a carta da companhia.

A Petrobras informou que desde o começo de janeiro fornecia diesel para ônibus para as cidades de São Paulo e Rio com o nível de sulfúrico determinado pela nova legislação brasileira.

Em seu ranking publicado ontem, a Covalence bateu o martelo. Derrubou a Petrobras para quarto lugar, mas bem à frente em termos de ética e responsabilidade ambiental do que Exxon (25), Shell (26), Total (28) e Chevron (30).

"Nossa decisão foi influenciada por entidades brasileiras de meio ambiente, consumidores, academia", confirmou um dos diretores da empresa suíça, Marc Rochat. A sanção ocorre, segundo o diretor da Covalence, porque ficou clara a contestação "à reputação ética na confrontação de opiniões na esfera pública", levando-se em conta o que é publicado em português.

Na categoria de companhias de recursos naturais, a Vale caiu da 8ª para 20ª posição, enquanto a Gerdau entrou no índice em 12ª posição. Por sua vez, Itaúsa - Investimentos Itaú SA fica em nova posição entre as de reputação ética na área de serviços financeiros. Na área de alimentos, Anheuser-Busch Inbev fica em 9ª posição, bem melhor do que a Nestlé em 16ª .

Globalmente, a IBM, Intel e banco HSBC lideram o ranking entre as 581 multinacionais. A categoria de bancos tem a pior nota, entre os 18 setores.

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