A plenária de abertura da Conferência Internacional Ethos discutiu as perspectivas da mudança de padrão civilizatório em torno do desenvolvimento sustentável. A idéia é valorizar somente o que faz a vida valer a pena
Caio Neumann
Esta discussão reuniu Bernardo Toro, filósofo e assessor da presidência da fundação Avina, e Susan Andrews, psicóloga e antropóloga formada pela Universidade de Harvard, fundadora e coordenadora da ecovila Parque Ecológico Visão Futuro, no interior de São Paulo, e coordenadora do programa Felicidade Interna Bruta (FIB) no Brasil.
Desenvolvimento sustentável, na sua vertente social, prerroga a ideia de evolução de um cidadão ou a personificação do ideal de cidadania em relações interdependentes. Toro iniciou sua palestra afirmando a necessidade de mudança de estilo de vida para a perpetuação da espécie. “Ou mudamos e aprendemos a cuidar de nós mesmos, dos nossos próximos conhecidos ou não e passamos a nos perceber como uma espécie única e cuidamos dos nossos recursos ou pereceremos”, prevê.
Para tanto, segundo o filósofo colombiano, também é preciso saber cuidar do nosso intelecto, preservar a criação e a disseminação do conhecimento - que é um bem social – reciclando, reutilizando e reduzindo o que consumimos. “O melhor instrumento para cuidarmos daqueles que não conhecemos é cuidar dos bens públicos”, completa, reafirmando a necessidade de unidade de toda a raça humana.
Susan Andrews, por sua vez, falou sobre a obsolescência do PIB como métrica de desenvolvimento, apresentando o seu crescimento nos Estados Unidos, seu país natal, desde a década de 1940 até hoje, e também o crescimento de pessoas com depressão, suicídios, divórcios, entre outras métricas de bem estar. “O PIB americano aumentou consideravelmente, mas isso apenas deixou uma pegada ecológica que nos assombra e o nível de felicidade percentual mais baixo que na metade do século anterior”, salientou.
Mas o que é Felicidade Interna Bruta ou FIB? É uma métrica de desenvolvimento humano utilizada pelo Butão, país do Himalaia. Ele segue a linha de pesquisa chamada “Ciência Hedônica”, cunhada por alguns cientistas, como, por exemplo, Joseph E. Stiglitz, economista estadunidense, prêmio Nobel de economia em 2001 (Stiglitz lidera e dá nome à Comissão que estuda – por encomenda de Nicholas Sarkozy, presidente da França – um novo indicador, para substituir o PIB).
Segundo os estudos dessa linha, riqueza traz felicidade só até certo ponto. Quando alguém sai do estado de miséria, passando por três estágios - atendimento das necessidades de sobrevivência, conforto e luxo -, o nível de felicidade aumenta. Porém, a partir dessa conquista, não há mais satisfação. E o que se mostra realmente importante, afirma Susan, não é apenas o desenvolvimento econômico, mas também os chamados “fatores não-materiais” como companheirismo, famílias harmoniosas, relacionamentos amorosos e a sensação de que se vive uma vida significativa, com sentimento, que se tem uma missão na vida.
A antropóloga acredita que o FIB reflete uma nova economia emergente com valores de sustentabilidade. Para confirmar a defasagem do PIB como métrica de desenvolvimento, Susan usa as palavras de John F. Kennedy:
“O crescimento do PIB inclui poluição atmosférica, que pode ser uma tragédia. Inclui travas especiais para nossas portas e recursos para manter prisões para pessoas que as quebram. Inclui a destruição de florestas e a morte de nossos lagos. Ele cresce com a produção de mísseis e ogivas nucleares. Não inclui a saúde de nossas famílias, a qualidade da educação de nossas crianças ou a alegria de suas brincadeiras. É indiferente à segurança das nossas ruas, nem mede a beleza de nossa arte, muito menos a estabilidade de nossos casamentos e a postura de nossos governantes. O PIB mede tudo em suma, exceto aquilo que faz a vida valer a pena”.
Fonte: Planeta Sustentável
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